sexta-feira, novembro 18, 2005

Manoel Maria Barbosa du Bocage


Vamos abrir uma excepção para Bocage, um dos nossos melhores poetas e, depois de Camões, o mais popular e celebrado de todos.

VIVA A ÁGUA

Meus senhores eu sou a água

que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos

que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões

que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água

que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete

que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca

que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão

Meus senhores aqui está a água

que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos

que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas

apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

Meus senhores aqui está a água

que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos

tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras

lava a tromba a qualquer fantoche
e lava a boca depois de um broche.

(Desculpem lá qualquer coisinha!)